Texto por Iara Leal, Joyce Vasconcelos e Lucas Gomes Edição por Gabriela Macêdo
Sancionada em 13 de maio de 1888, a Lei Áurea aboliu a escravidão no Brasil. 130 anos depois, a representatividade negra, em especial da mulher, ainda sofre vestígios de um país marcado pelo preconceito racial. Trata-se de uma herança histórica da escravidão. A situação da violência contra a mulher no Brasil é assustadora. No que diz respeito à mulher negra, é uma realidade desumana, pois o enfrentamento ao racismo, ao machismo e a pobreza é diário. O resgate da auto estima, a conquista de espaços e a valorização das mulheres negras, é intensificado através da defesa e implementação de políticas públicas voltadas para a educação e formação profissional com o condão de vencer as desigualdades e os altos índices estatísticos constantes no Mapa de Violência-Homicídios contra mulheres negras existentes em nosso país. A conscientização sobre o que é o racismo é necessária e urgente, para que possa ser combatido e modificar a perversidade destes índices.
A quarta edição do Politizar veio para mostrar que tanto mulheres negras como as demais “minorias” participantes do projeto, tem condição de se unir com o objetivo de avançar nas ações que lhes possibilite alcançar melhores condições de cidadania com dignidade e respeito. Este ano, tivemos a Frente Feminina Mista, pioneira das frentes no Politizar, que garantiu a ocupação de mulheres em todos os cargos diretivos, divergindo e calando falas e atitudes machistas que insinuavam nossa ocupação de cargos com menor expressividade.
A escolha da coligação ‘Com a Força de Goiás’, da qual fiz parte, e da candidatura de uma mulher negra para a Governadoria, que contrariou o que normalmente ocorre no meio político, demonstra o nível de conscientização dos simulandos desta edição. Em Goiás, a governadoria sempre foi ocupada unicamente por homens. Além disso, na atual legislatura da Assembleia Legislativa do Estado de Goiás (Alego), temos somente duas mulheres brancas eleitas como deputadas, o que infere a dificuldade das mulheres negras em ocupar esferas políticas e de decisão.
Ao ser eleita a primeira governadora do projeto Politizar, ficou nítida a força da coligação partidária em busca de um mesmo objetivo. Força que, neste caso, foi oriunda de muito diálogo e respeito, uma vez que foi formada por quatro partidos distintos – PRB, PSDB, PT e PSB, com plataformas e objetivos completamente diferentes. No cenário político atual e real, tal união seria impraticável. Contudo, superando as adversidades ideológicas, tínhamos a pretensão de garantir representatividade das ditas minorias, mesmo sendo no âmbito da simulação, para que estivessem presentes, ocupando cargos diretivos com a possibilidade de maior visibilidade e ainda implementar políticas públicas visando a diminuição das disparidades vividas no nosso Estado através da aprovação de PLs.
Durante meu “mandato”, onde cada dia, equivalia a 1 ano de governo, tive a oportunidade de visitar o canteiro de obras da nova sede da Alego, projeto vanguardista que irá abrigar todas as necessidades físicas da Casa. Mantive contato com deputados da atual legislatura, no qual a troca de ideias agregou muito à minha experiência. Me reuni com a coordenação de ensino dos Colégios Militares do Estado de Goiás, que assegurou o estudo para implementação do PL apresentado pela Deputada Adna Rocha e Deputado Rodrigo Bispo, visando a formação e treinamento de atletas de alta performance para representar o Estado em grandes competições e garantir aos jovens a oportunidade de crescimento pessoal por meio do esporte. Já na agenda de visita ao palácio, foi possível conhecer as atividades do vice governador, situação na qual Ana Flávia Teixeira, nossa vice, colheu informações acerca do plano empreendido para acompanhamento das promessas de campanha feitas pelo atual governador. Por último, estivemos na Casa Civil, local de elaboração de proposituras legislativas, decretos, portarias, respostas aos requerimentos, ofícios, e outros documentos de competência do executivo.
Registra-se a surpresa de algumas pessoas durante as visitas, pelo fato uma mulher negra ser a governadora, mesmo sendo simulação. Ainda temos muito chão pela frente. Entretanto, ficou um “gostinho de quero mais”. Ou seja, na prática como governadora, não tive a oportunidade de responder os requerimentos feitos pelas(os) Deputadas(os), e nem foi houve tempo hábil para a proposição de um projeto de lei de interesse da governadoria.
Entendo que nesta edição as atividades já estavam programadas, e seria difícil abrir espaço para acrescentar um pauta, para a governadoria e vice, além das que cumprimos. Gostaria de sugerir, entretanto, que nas próximas edições tenhamos uma pauta na qual a governadoria, vice, deputadas(os) e assessores possam vivenciar ‘in loco’ ações sociais, voltadas para atendimento às necessidades da população. Outro ponto importante, seria a implementação da Comissão de Tributação, Finanças e Orçamento que analisaria a viabilidade orçamentária dos projetos apresentados, já que em sua maioria necessitam de aporte financeiro para sua execução.
Agradeço à Escola do Legislativo, onde fomos recebidos de maneira tão carinhosa, à UFG, e à coordenação do Projeto Politizar por nos propiciar conhecer a rotina do legislativo, de maneira tão verdadeira, que até as traições e emoções parlamentares vivenciamos de forma contundente. Ainda agradeço a todos os servidores da Alego, que colaboraram e dispensaram a todos nós o mesmo tratamento dado aos parlamentares e assessores. Além disso, faço um agradecimento especial aos assessores que estiveram ao nosso lado na governadoria e, por fim, não podíamos esquecer da imprensa, que sempre esteve presente.
Particularmente, me emocionei muito no encerramento do Politizar, que fez crescer em mim o desejo de termos mais mulheres negras ocupando espaços no legislativo, no executivo e no judiciário. Assim, numa homenagem às vozes e passos que seguimos, e vem de longe, nos estimulam a prosseguir!
