OPINIÃO: Misoginia e machismo: Violência Estrutural, Direta e Cultural

Texto por Doane da Fonseca Edição por Gabriela Macêdo

Misoginia e machismo, palavras levantadas durante essa edição do Politizar, e sobretudo, infelizmente, incorporados em posturas e falas dos deputados. Misoginia vem da união de miseó, que significa “ódio”, e gyné, que se traduz para “mulher”. O machismo, por sua vez, é o traço mais aparente da misoginia, sustentando assim uma estrutura e cultura violenta para com as mulheres. De fato, nós mulheres, não somos frágeis, mas estamos inseridas em um contexto de vulnerabilidade social, não sendo questão de “percebimento”, juízo ou opinião, e sim de um fato social.

A Violência Direta é a aquela que é perceptível e que pode ser vista e mensurada, por sua vez sustentado pelas outras duas violências não visíveis (cultural e estrutural). Ao aplicar esse conceito à temática trazida aqui, os produtos são: feminicídio, violência doméstica, estupro, importunação sexual, dentre outras.

A nível Brasil, a ponta deste iceberg traz números bastantes expressivos, a cada 17 minutos uma mulher é agredida fisicamente, de meia em meia hora alguém sofre violência psicológica ou moral. A cada 3 horas, uma mulher relata um caso de cárcere privado. No mesmo dia, oito casos de violência sexual são descobertos no país, e toda semana 33 mulheres são assassinadas por parceiros antigos ou atuais. Em 2017, o Brasil concentrou 40% dos feminicídios da América Latina. E olhar para dentro de nossas divisas estaduais, não nos traz nenhum alento, haja vista que Goiás ocupa a 2ª posição no ranking nacional de violência contra a mulher. Estes números elucida de forma muito clara, como nossa individualidade é compreendido como pública, como se fossemos servas e não senhoras do nosso destino, corpo, escolhas e vontades.

A perspectiva da cultura violenta atua de forma silenciosa, ao criar normas e
comportamentos que trazem legitimidade à violência direta e estrutural, ao modo que se naturaliza na sociedade. Cabe a ressalva que essa forma violenta não controla uma cultura inteira, manifesta-se em aspectos culturais específicos, como o patriarcado, dominação masculina, cultura do estupro, masculinidade tóxica. Isso reflete no questionamento das motivações do estupro como com qual roupa a vítima estava, horário, local, se estava bêbada
ou afins, como se a mulher tivesse parcela de culpa no crime que a vitimiza, com a máxima de que “mulheres que se dão ao respeito, não são estupradas”.

A Violência Estrutural por sua vez, e a mais grave, tem como principais características de que as próprias estruturas sociais são moldadas para que determinada situação violenta ocorra e se mantenha o status quo (o estado atual das coisas). O estopim e a essência da violência estrutural é a desigualdade, sobretudo quando reverberada na estrutura de poder, como por exemplo, somente 2 das 41 cadeiras da Assembleia Legislativa de Goiás, são ocupadas por mulheres; apenas 16% dos postos de alta direção são ocupadas por mulheres, e segundo estudos, no mercado de trabalho, a mulher ao se tornar mãe, é acompanhada de diferenças salariais, dificuldades de promoções e alcance de cargos de liderança. Posto que é um processo profundo, lento e contínuo, logo seus efeitos são mais hostis à sociedade, ao
modo que aprofunda as estruturas violentas e resguarda a sua manutenção.

Ainda há a necessidade de salientar que essa violência é acentuada quando aplicamos às mulheres pretas, quando são ainda mais violentadas, vulnerabilizadas e hipersexualizadas, dado nosso legado escravocrata que ainda, como sociedade, não superamos. Neste artigo, convido à reflexão e exercício da empatia, dado que esse distanciamento e falta de vivência promove falas e atitudes equivocadas que destoam do cotidiano das mulheres. Homens, reconheçam seus privilégios, e sobretudo repensem o que fazer a partir deles, ainda mais inseridos em um ambiente extraordinário como Politizar, que nos convida a pensar a sociedade além do nosso olhar, vivências e regalias. E coloquem o ego a parte, entenda que a política não é uma jogo de soma zero, no qual quando asseguramos a garantia dos nossos direitos – como mulheres, vocês perdem os seus. Nossa luta além da busca do que queremos, é sobretudo da certeza do que nós merecemos.

Local do Evento

Palácio Maguito Vilela – Avenida Emival Bueno, Quadra G, Lote 01, Park Lozandes. Goiânia – Goiás.

Realização:

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